Movimento BAMP

 

Entrevista com a Presidente da Associação Fátima Cultural: 26 de Fevereiro de 2010

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Bom, aqui colocaremos a entrevista que fizemos à Presidente da Associação Fátima Cultural (AFAC), Tanya Ribeiro, no passado dia 26 de Fevereiro pelas 16 horas. As perguntas que colocámos estão também disponíveis na página inicial. Entre cada uma, é claro que houve outras conversas paralelas, mas o principal está transcrito.

P.S. : a entrevista foi gravada em áudio e passada para papel.


BAMP – No seu entender, quais os principais factores que tornam Fátima atractiva à fixação de novas famílias e consequente aumento populacional?

AFAC – Ora, então eu considero que Fátima tem como pontos atractivos principais, exactamente, a questão da centralidade geográfica que permite às pessoas ter um acesso aos serviços maior e terem realmente terem acesso a uma bolsa de emprego maior, também, considero como factor atractivo a localização das famílias, o facto de haver uma grande diversidade de serviços existentes o que aqueles que não existem em Fátima, lá está pela centralidade geográfica, conseguem adquirirem em áreas bastante próximas. Outro ponto, que acho interessante é a questão da bolsa de emprego, Fátima é realmente uma região, que apesar de estar a sofrer com a crise e a conjuntura actual económica, ao mesmo tempo ainda não sofreu aquela taxa de desemprego que está a nível nacional e isso, acho, que é realmente um ponto forte.

BAMP – No seu entender, quais são os factores que poderão afastar outras famílias?

AFAC – Basicamente, o valor do mercado imobiliário está bastante alto. Eu conheço bastantes pessoas estão a pensar em comprar casa, trabalham em Fátima no entanto, estão a dirigir-se, por exemplo para Leiria, ou para outras regiões, porque lá a casa é mais barata. Sendo, assim, acho que o mercado imobiliário está bastante alto. Outra questão, é o facto de não haver espaços de lazer, e isto inclui espaços verdes, espaços onde existam uma oferta cultural. Apesar de termos alguns progressos ainda não são suficientes.

BAMP – Quais as suas perspectivas para o futuro de Fátima?

AFAC – Então, o futuro de Fátima vai depender de muitos factores, mas fundamentalmente depende de dois. Depende das estratégias que estão a ser desenvolvidas pelo poder local, mas também depende da cooperação dos fatimenses nesta questão. Fátima é uma cidade com um potencial bastante grande, mas um potencial mesmo muito grande, e a meu ver está a ser aproveitada a 30%. Acho que para conseguir a maximização deste potencial, acho que devemos criar estratégias de fixação de empresas e de famílias, temos que criar pontos atractivos a novos públicos, tentar diversificar todas as pessoas que nos vêm aqui visitar todos os anos, e são 5 milhões, conseguimos ainda mais e, também, podemos sempre tentar fazer estratégias de conseguir fazer aumentar o período de permanecia das pessoas, dos nossos visitantes aqui em Fátima. A maximização, realmente, será conseguida através destas estratégias de promoção, através das estratégias de desenvolvimento urbano, criando novos pontos turísticos, e quando falo de pontos turísticos não falo apenas de circuitos, novos circuitos. Acho que temos que fazer, realmente, novos circuitos, mas temos que fazer outros segmentos de turismo. Nós temos um concelho que é bastante rico nisso e aí acho que era uma questão de aproveitar. Além disso, acho que tem de se fazer uma grande promoção da região a nível nacional e internacional. Fátima é conhecida como sendo um bocado exploradora e eu acho que isso aí pode ser colmatado se nós conseguirmos fazer, realmente, algumas intervenções porque aqui as pessoas, inclusive uma vez estive a falar com peregrinos, eles diziam nós vimos a Fátima, só que vimos a Fátima vimos simplesmente às cerimónias e vamos embora. Porque o quê que nós temos para ver? Temos para ver o que sempre vimos cada vez que vimos a Fátima e além disso, nós vamos ver as lojas de santos, muitas vezes entramos e as pessoas ainda nos olham com uma cara porque não vamos comprar nada. E, isso é um factor que realmente expele os peregrinos daqui, vão às cerimonias e vão se embora. E, mais importante do que desenvolver estas estratégias todas é realmente executa-las, que é uma coisa que cabe a nós fatimenses fazer pressão sobre o poder político e o próprio poder político meter em execução essas estratégias.

BAMP – Acha que Fátima está preparada para um grande desenvolvimento a nível de infra-estruturas funcionais?

AFAC – A curto prazo acho que não. Acho que estamos necessitados, realmente, de um desenvolvimento a nível de infra-estruturas funcionais, mas não pode ser um crescimento muito exponencial. Porquê? Porque as pessoas, nós de Fátima, estamos habituados a procurar vários serviços, vários produtos de oferta cultural, vamos a Leiria, vamos a Coimbra, vamos a Torres Novas, podemos ir a Lisboa em quarenta e cinco minutos e isso faz com que as pessoas já tenham criado um hábito de fugida de Fátima e tentar procurar esses produtos fora de Fátima. Os peregrinos, por sua vez, estão habituados a ver Fátima como o grande centro comercial dos artigos religiosos, um bom local de oração. Então, se nós fizéssemos um grande investimento a curto prazo em grandes infra-estruturas acho que seria um investimento inviável, porque era um investimento muito grande e as receitas iam ser muito lentas. O quê que eu propunha para essa questão, então? Eu propunha que fosse feito um investimento gradual, tentar fazer um estudo, saber, realmente, quais é que seriam as infra-estruturas que fazem mais falta, inicialmente, promover essas infra-estruturas e à medida que vamos fazendo essa forte promoção, íamos, tentando promover, também, outros projectos que estão a tentar ser aplicado. Acho que seria uma forma inteligente de conseguirmos fazer um investimento, gradualmente claro, e de as pessoas ficarem a conhecer e transformarem isto num hábito e as pessoas procurarem alguma coisa, já em Fátima, porque já sabem que há alguma coisa. Agora fazer alguma coisa tipo tchana, não é possível.

BAMP – Para si, a Religião representa algum entrave ao desenvolvimento de Fátima, ou pelo contrário, representa um incentivo a esse desenvolvimento? Porquê?

AFAC – A religião aqui não é de modo algum um entrave ao desenvolvimento de Fátima, porque temos de dar a mão à palmatória e é graças à religião que nós existimos, se não nós éramos mais uma aldeia rural do concelho de Ourém. Portanto, acho que nós temos de olhar, pelo menos em termos económicos, olhamos para o santuário e para a religião como o nosso crown business, como diz o nosso Presidente da Câmara a nossa jóia da coroa. Então, eu acho que a religião é, realmente, atractiva, porque traz-nos 5 milhões de pessoas e além de nos trazer os 5 milhões de pessoas, proporciona-nos uma bolsa de emprego maior, porque nós precisamos sempre de dar o atendimento a esses visitantes. Agora o que eu considero é que é preciso existir um equilíbrio entre a oferta de produtos religiosos e uma oferta de produtos diversificados, como já referi outros circuitos turísticos. Por exemplo, Fátima é um encontro de culturas, e isso nós não podemos negar, acho que fazia todo o sentido pegarmos, também, na cultura e dar outra parte aos visitantes. Além, disso a sociedade evolui, evolui tanto que há muitas pessoas que consideram a religião muito importante, mas vão sempre tentar buscar outras formas de bem-estar espiritual, bem-estar pessoal, ou seja eu acho que as pessoas tem realmente outras necessidades e acho que essas necessidades que nós temos de tentar preencher aqui em Fátima. Para que isso aconteça, acho que devemos ter um maior diálogo entre os particulares, como cidadãos, a população local entre o santuário e o poder local. Acho que é através destas energias criadas entre esta cooperação, que vamos conseguir transformar essa questão.

BAMP – No seu entender, Fátima carece de infra-estruturas que não correspondem às necessidades culturais da população?

AFAC – Sim, existe uma grande lacuna nesse aspecto. Os jardins que nós temos são todos privados, temos aí grandes jardins, mas realmente não são acessíveis a qualquer pessoa. Tivemos um cinema, só que o cinema foi abaixo, porque não tinha condições e basta-nos um quarto de hora e estamos em Leiria e temos cinemas com brutais condições. Além, disso temos um grande parque desportivo, que é o complexo desportivo na Eira de Pedra, mas não é acessível ao público. Acho que, realmente, deviam haver infra-estruturas que fossem mesmo acessíveis ao público e que as pessoas pudessem usar, tanto a população local como os visitantes, porque, também, os visitantes, lá está, procuram o santuário mas também a seguir um espaço para poderem ter um momento de lazer.

BAMP – Acha que seria benéfico e viável a projecção de um Centro Cultural para a cidade onde uma galeria para exposição de arte, uma biblioteca e um auditório seriam os espaços fundamentais?

AFAC – Sim, acho que era benéfico e viável. E, acho que essas, realmente, eram as secções fundamentais logo no início. Acho que a galeria de arte é muito importante, porque temos galerias de arte só que estão todas viradas para a arte sacra e nós temos um número enorme de artistas em Fátima, eu própria não conhecia só quando comecei a lidar com a associação é que comecei a ver que nós temos realmente gente que é muito rica a nível artístico. Temos nomes de Fátima, que não são conhecidos em Fátima, mas que são conhecidos lá fora. E, realmente, ter uma galeria onde fosse dada oportunidade às pessoas de expor, mesmo que sejam trabalhos do CEF, trabalhos do São Miguel, acho que era muito benéfico. Aliar a biblioteca à questão de estar inserida no mesmo edifício no centro cultural, acho que era uma estratégia muito interessante. Porque, as pessoas vão à biblioteca. É um sitio que, normalmente, vão, nem todas mas ainda existe uma grande parte que vai. E, nem que seja por curiosidade passam ao lado da galeria e podem sempre entrar, nem que seja mesmo por aquela curiosidade e à medida que vão frequentando a biblioteca vão criando o hábito de passar pela galeria. Acho que isso é uma mais-valia, porque formam a curiosidade num hábito. Depois em relação ao auditório, acho que, realmente, também era óptimo. Acho que não precisamos de um cinema em Fátima, acho que precisamos de uma estrutura onde possa ser passados alguns filmes, porque um cinema mesmo em si não era viável. Não temos população que chegue para tanto. Mas, por exemplo, um auditório onde fosse capaz de passar alguns filmes, por exemplo duas vezes por semana dois filmes diferentes, onde pudessem ser feitos espectáculos seja de associações locais ou peças contratadas, pudessem ser feitos ateliês, seminários, todas essas questões acho que, realmente, era muito importante. Porque era um centro onde as pessoas se podiam concentrar e mesmo que não soubessem, que não tivessem visto o jornal, que não tivessem visto o cartaz, mas se lhe apetece-se ver qualquer coisa podiam passar no centro cultural e ver se, realmente, existe alguma coisa ou não. Mas, acho tínhamos sempre espaço para alguma coisa.

BAMP – Onde seria localizado?

AFAC – Não tenho uma localização específica a propor. Acho, simplesmente, que devia ser um espaço central e quando falo num espaço central não falo num espaço mesmo na Cova de Ira, falo de um espaço perto da Cova de Ira, um espaço onde tenha um parque de estacionamento ou onde possa ser construído um. Agora, sei de um projecto de um centro cultural que está a ser projectado para uma escola a ser desactivada. Feitas as devidas obras ou alargamento do espaço, acho que era, realmente, um espaço fantástico. Acho que não precisamos de muito, não temos nada, precisamos de alguma coisa. Mas, não precisamos, assim, que seja mesmo no centro da Cova de Ira.

BAMP – Mais concretamente, e visto que em Fátima não há grande facilidade no aluguer ou utilização dos auditórios existentes, este projecto seria de facto uma mais-valia?

AFAC – Acho que sim, porque fazendo parte de uma associação debato-me sempre que quero fazer um evento. Onde é que o vamos fazer? Temos salões, temos utilizado agora o mercado, os salões paroquiais. O salão paroquial também é bom, existem outros salões por aí. Só que não têm as condições acústicas, muitas vezes não têm parques de estacionamento. Além disso, não têm dimensões do palco suficientes, temos que andar a pedir palcos e há muitas questões técnicas que não podem ser colmatadas aí. Temos vinte e duas associações, temos várias instituições que fazem imenso trabalho, portanto eu acho que teríamos sempre movimento nesse centro cultural.

BAMP – Na sua opinião este teria uma utilização frequente ou seria um desperdício de recursos?

AFAC – Acho que já respondi um bocadinho a essa pergunta. Mas, pronto, lá está, temos vinte e duas associações, temos várias instituições, por exemplo o CRIF, o conservatório de música que tem sempre muitos trabalhos e tem trabalhos excelentes, e muitas vezes acredito que não o façam ou que não apresentem ao público, porque quando não existem condições é dificultado fazer um evento, organizar um evento é sempre muito superior. Se as condições já tiverem feitas, então será muito mais fácil, muito mais facilmente haverá eventos.

BAMP – E, para si deveria ser cobrado um aluguer ou seria de livre acesso e apenas limitado à calendarização deste?

AFAC – No mundo ideal, não teremos que pagar nada, só que um investimento desta envergadura é mesmo um grande investimento e inicialmente com certeza que quem vai investir nisso precisa de algum retorno, pelo menos que seja para colmatar o investimento que fez. Portanto, acho que entre uma parceira entre as associações e o poder local, o poder local vai ter que investir, porque não são as associações que não têm dinheiro. Acho que, realmente, podia ser feito um pagamento mediante a situação da associação, por exemplo a AFAC não tinha uma situação em que pudesse estar a pagar 200€ pelo aluguer do espaço. Mas, vendo a situação das associações, o investimento que é, tentar sempre acordar sempre um preço, nem que fosse simbólico, para poder colmatar um bocadinho aquele prejuízo que o poder local está a incorrer, porque sabemos que a nossa Câmara não está bem, sabemos que a nossa Junta não está bem e temos que, também, ver essa parte. Depois do investimento estar feito, acho que as associações e instituições já não deveriam ter de pagar nada e existe, realmente, a parte da manutenção dos factos em que temos que ter técnicos a trabalhar, temos que fazer pagamentos de tudo e mais alguma coisa. Mas, acho que é uma coisa que já pode ser inserida no orçamento anual.